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16/01/2013

FLORBELA ESPANCA

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Há alturas, em que ler,... me faz mal ! ...

Peguei nos "Sonetos" de Florbela Espanca e passados alguns, não conseguia ler mais, porque os olhos se me "toldaram" humedecidos e enevoados !

Se pretendesse ler alto, para mim, ou para alguém, não conseguiria, nem ler, nem articular as palavras !

Esta mulher é "o meu ídolo", em Poesia.
Sinceramente, tive que parar ! ... É  BELO DEMAIS  !!!

DEPOIS,... pensei em "repartir" convosco, meus amigos/as portugueses e brasileiros :


Inconstância - Florbela Espanca - Miguel Falabella Procurei o amor, que me mentiu. Pedi à vida mais do que ela dava; Eterna sonhadora edificava Meu castelo de luz que me caiu! Tanto clarão nas trevas refulgiu, E tanto beijo a boca me queimava! E era o sol que os longes deslumbrava Igual a tanto sol que me fugiu! Passei a vida a amar e a esquecer... Atrás do sol dum dia outro a aquecer As brumas dos atalhos por onde ando... E este amor que assim me vai fugindo É igual a outro amor que vai surgindo, Que há-de partir também... nem eu sei quando... Os versos mais lindos que te fiz - Florbela Espanca - Miguel Falabella Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem pra te dizer! São talhados em mármore de Paros Cinzelados por mim pra te oferecer. Têm dolência de veludos caros, São como sedas pálidas a arder… Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos pra te endoidecer! Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda… Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que não diz! Amo-te tanto! E nunca te beijei… E nesse beijo, amor, que eu te não dei Guardo os versos mais lindos que te fiz! Oração de joelhos - Florbela Espanca - Miguel Falabella Bendita seja a mãe que te gerou! Bendito o leite que te fez crescer! Bendito o berço aonde te embalou A tua ama pra te adormecer! Bendito seja o brilho do luar Da noite em que nasceste tão suave, Que deu essa candura ao teu olhar E à tua voz esse gorjeio d’ave! Benditos sejam todos que te amarem! Os que em volta de ti ajoelharem Numa grande paixão, fervente, louca! E se mais, que eu, um dia te quiser Alguém, bendita seja essa mulher! Bendito seja o beijo dessa boca! Saudades - Florbela Espanca - Miguel Falabella Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!



Nota : Excelente a declamação de Miguel Falabella !!!
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01/10/2011

AMO-TE TANTO !... E NUNCA TE BEIJEI ...

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Para os meus amigos/as do Brasil e Portugal
Florbela Espanca - Miguel Falabella





Quatro Poemas : Haverá coisa mais linda ? ...


INCONSTÂNCIA - Florbela Espanca - Miguel Falabella

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...


OS VERSOS MAIS LINDOS QUE TE FIZ - Florbela Espanca - Miguel Falabella

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


ORAÇÃO DE JOELHOS - Florbela Espanca - Miguel Falabella

Bendita seja a mãe que te gerou!
Bendito o leite que te fez crescer!
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama pra te adormecer!

Bendito seja o brilho do luar
Da noite em que nasceste tão suave,
Que deu essa candura ao teu olhar
E à tua voz esse gorjeio d’ave!

Benditos sejam todos que te amarem!
Os que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão, fervente, louca!

E se mais, que eu, um dia te quiser
Alguém, bendita seja essa mulher!
Bendito seja o beijo dessa boca!


SAUDADES - Florbela Espanca - Miguel Falabella

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

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21/07/2010

A VIDA É ...

(Confúcio)
"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido... "


Mas tenham sempre presente que :


A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:

Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida – pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!

De "Poemas" de João de Deus

Recordei com saudade uma "Dedicatória colectiva" que "nos" foi feita no livro do fim do curso, pelo saudoso Pedro Homem de Melo :

EXORTAÇÃO :

Lutai, rapazes,
Sempre,
Mas humanos,
Sem ódios
E sem vão prometimento
Lutai!
Lutai,
Na força dos vinte anos.
Que as asas
Só são asas
Quando há vento ...



Fiz um "rewind" e verifiquei que isto foi ... "há dias, ... há muito, muito pouco tempo ..." !...

Estou certo que isto mesmo se passa com muitos de vós e é realmente de pensar se temos vivido a vida tendo em conta o que pensavam dela, Confúcio, João de Deus e Pedro Homem de Melo.

... e lembrem-se:

"A vida é o dia de hoje" !

"A vida dura um momento" !

"A vida é folha que cai" !

"A vida o vento levou" !

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Foto da Net (Glauciana Nunes)



17/03/2010

ADITAMENTO - JORGE DE SENA


Não sei porquê, os links "A Portugal" e "No País dos Sacanas" no post abaixo, não abrem. Dado achar que é importante a leitura, para melhor entendimento do post, transcrevo-os para "avaliação".

É com coisas destas que se é condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à comunidade portuguesa, se recebe postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago e se é trasladado dos USA para Lisboa, com cerimónia de homenagem na presença do Primeiro-Ministro, e da esposa do Presidente da República.

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.

Jorge de Sena


No País dos Sacanas

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.


Jorge de Sena


A Diferença Que Há

A diferença que há entre os estudiosos e os poetas
É que aqueles passam a vida inteira com o nariz num assunto
A ver se conseguem decifrá-lo, e estes
Abrem o livro, lêem três páginas, farejam as restantes
(nem sequer todas) e sabem logo do assunto
o que os outros não conseguiram saber. Por isso é que
os estudiosos têm raiva dos poetas,
capazes de ler tudo sem Ter lido nada
( e eles não leram nada tendo lido tudo).
O mal está em haver poetas que abusam do analfabetismo,

E desacreditam a gaya Scienza


Jorge de Sena
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JORGE DE SENA

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Sou muito mais "ligado" às Ciências e aos números, que às Letras.
Quem sou eu, portanto, para me arvorar em "crítico" literário ?...
Há porém uma coisa que não gosto : Fazerem-me sentir parvo ! Posso gostar ou não gostar, mas sentir-me achincalhado e gozado pela minha "ignorância (?)", não gosto !

Vem isto a propósito de Jorge de Sena.
Este indivíduo escreveu o que de pior se pode escrever contra o país que o viu nascer. Porquê, o que o movia contra Portugal, não sei, não tenho bem claro.

Os seus textos poéticos:

"A Portugal" e "No país dos sacanas" são do pior que se possa imaginar de insultuoso a Portugal e aos portugueses!
"A Diferença Que Há" (entre os estudiosos e os poetas) torna-se ridícula e revoltante pela arrogância "do ser" poeta!
No último verso, reconhece, mas confessa: "O mal está em haver poetas que abusam do analfabetismo"

Nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919 — e faleceu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978) diz-se que foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.

Tinha um posicionamento político livre e denunciador, que lhe acarretou perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Em 1937, entrou para a Escola Naval, após o que foi demitido da Armada. Exilou-se no Brasil em 1959, naturalizou-se brasileiro em 1963 e mudou-se, apenas 2 anos depois, para os Estados Unidos em 1965, onde veio a falecer em 78.

Seria pelo facto de ter sido opositor a Salazar que em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais fossem trasladados de Santa Barbara, Califórnia, onde estavam enterrados desde 1978, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e do Primeiro-Ministro, José Sócrates, e da esposa do Presidente da República, Maria Cavaco Silva ?
Tinha sido condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à comunidade portuguesa e recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago !

Quem disse que escrever esclarece?
Será que o simples facto de não percebermos, nos torna inferiores perante a sumidade dos "emissores", deuses da sabedoria, carregados de inteligência e valor e dignos de colocados num pedestral, para serem venerados ?

Ele escreveu entre muitas outras coisas, ‘Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena’, dos quais postarei o 1º(só como ex.) :

"I - PANDEMOS"

Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!

Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão boíneos, ó primana!

Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por manivornas contumai a veste!

E, quando prolifarem as sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantos como o pedipeste.


PS.: Percebi perfeitamente : "a de que se e como se e que que às ó por a e quando as tão como o" !!!
Se me dão licença, vou ali ler outros, “verdadeiramente notáveis", para ver se aprendo alguma coisa, porque ou estou a ser gozado, ou serei de facto "analfabeto" e saber isso, é muito desagradável ! Ele confessa que há "poetas" que abusam dos analfabetos.
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26/10/2009

SOBRE AS "COISAS DA FONTE"

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Dedicado à "minha Fonte" :

Poema de: Alberto Delgado (em 1927 c/ 20 anos de idade))
(Poeta bucólico /romântico )

Lindo ! ... tem que ser lido com o sentimento da época


Sêde de Beijos

À beira do caminho há uma fonte,
Que mata a sede a quem vai lá beber;
De água corrente, solta de algum monte,
Tem essa fonte eterno padecer.

Pela tardinha, antes do sol fugir,
É certo ver ali a conversar
Dois namorados, que num só sentir
A ardente sêde vão dessedentar.

De tal jeito, imitando a dita fonte,
Unem seus lábios, no sopé do monte,
Lá quando a noite quase se avizinha...

Ele mata-lhe a sêde com seus beijos,
Como se fosse a bica dos desejos...
E a sua boca fosse a cantarinha !

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