28/10/2009

O BLOCO DE ESQUERDA

A coerência poderá não ser uma característica de um movimento, cultural ou artístico, já a estética, sim !

Um movimento político, pelo contrário, tem sempre que possuir, como critério, uma ideia de acção e intervenção assente na coerência e no sentido de Estado.

O Bloco de Esquerda poderia então ter sido um movimento cultural e estético.

Optou por ser um movimento político, mas esqueceu-se de que tinha que ser coerente. Pleno de ideias fracturantes e de choque de mentalidades, é disso que se alimenta. Porém, uma ideia não é necessariamente boa só porque é fracturante e chocante das mentalidades dominantes.

Esta evidência foi ignorada pelo BE, começando a defender tudo e o seu contrário, desde que fosse fracturante e chocante :

- A eutanásia choca? Então o BE é a favor.
- O aborto fere sentimentos ? Então ele defende-o de modo ilimitado.
- O casamento é estimável aos olhos da maior parte dos portugueses? Então o BE aposta na sua destruição.
- O casamento homosexual é mal visto pela generalidade da população ? Então o BE (contra o casamento, em geral) luta pela sua aprovação.
- Os rendimentos de capitais chocam muitos portugueses, então o BE, faz deles cavalo de batalha.

Não há mal algum em defender-se a eutanásia, o aborto, o divórcio, o casamento entre homossexuais, ou a extinção dos rendimentos (ou fortes penalizações sobre eles), desde que com argumentos e não apenas porque sim ou porque não !

Assim é extremamente fácil ser oposição !

Eu próprio sinto-me defensor de algumas dessas questões, com os meus argumentos !

Defende-se tudo isso, só porque sim, só porque tudo isso é fracturante ou chocante, mas sem qualquer preocupação de coerência.

Sendo assim, o factor “estéctico” sobrepõe-se ao político.

Com os últimos resultados de Louçã nas legislativas e autárquicas, confirmou-se agora que o BE dificilmente terá condições para ser um partido político. Também já será demasiado tarde para ser um movimento literário ou artístico.
Começará a esfrangalhar-se, perder credibilidade e auguro-lhe um futuro nada risonho.
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