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Ermesinde, onde nasci e resido, é responsável pela criação do “molete”, desde há cerca de 200 anos !
Ora um molete, é um produto de padaria (habitualmente de farinha de trigo) com cerca 60 gr., em forma de bola, tal como todos os outros produtos similares conhecidos por outros nomes noutras regiões, como: um pão, uma carcaça, um bijou, um papo-seco, um trigo, um pãozinho, uma vianinha, um pãozinho francês, ...
Creio que, anteriormente, este produto teria um peso e dimensão substancialmente maior em todas as regiões do país, não se tornando prático para atribuição individual numa refeição.
Em Ermesinde/Valongo (já mais tarde) ainda a Regueifa se impunha e era curioso o pregão das padeiras na Estação de Caminho de Ferro à chegada dos combóios : “Merca Regueeeeifaaa” !... ou “Quem quer Regueeeeifaaa” !... ou “Ó freguês vai uma Regueifiiinha ?... ou ainda : “Quem quer,… Bilha e ááágua !!!...” … “Compre freguês, compre ! …”
Origem do nome “Molete” :
Durante muitos e muitos anos, Ermesinde/Valongo e todo o concelho, forneceu pão para muitas outras terras à sua volta.
Os campos de cultivo eram férteis e os moinhos nos rios, com a força das águas, moíam o grão e faziam a farinha.
O pão de que o povo se alimentava era de trigo e de milho e os pobres misturavam-lhe centeio para que o pão ficasse mais doce e agradável ao paladar.
Quase não havia uma casa que não tivesse forno para cozer pão, fazer biscoitos, bolachas e regueifas (estas o pão de eleição na zona).
Acontece que a Regueifa era um pão demasiado grande para consumo individual e era em Ermesinde/Valongo e no concelho, que se fazia o pão que se comia no Porto.
Acontece que o general francês que comandava o exército inimigo, durante as Invasões Francesas, um homem chamado Mollet, tinha tomado de assalto e estava aquartelado, no (Convento) que é hoje o enorme Colégio da Formiga, em Ermesinde, era grande apreciador desse pão.
Todos os dias, ao pequeno-almoço, não o dispensava.
Dado ter um exército para alimentar e dada a crise existente e a logistíca necessária, decidiu que o pão teria que ser mais pequeno em doses individuais, o que foi feito de imediato, por sua ordem.
Na localidade, os padeiros já sabiam que todos os dias o pão (sempre feito durante a noite) tinha que estar pronto à mesma hora e quando colocavam as cestas nas carroças que iam para o Porto dizia-se:
Lá vai O pão para O Molete !
(Como não sabiam falar francês, era assim que o chamavam.)
A partir daí, os pãezinhos pequeninos começaram a chamar-se "moletes" e como se verificou ser a ideia bastante prática, começaram a ser fornecidos às populações até aos dias de hoje !
Não posso dizer se o resto do país adaptou a ideia do tamanho individual do pão, embora com os nomes actuais, que não molete !
Moletes
Regueifa
Nota: Se se lembrarem de outros nomes para este tipo de pão noutras regiões, poderão informar.
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Toda a minha vida chamei a um pãozinho: molete!!!
ResponderEliminarO que eu não sabia era a história do dito molete, que achei deveras interessante.
Desejo que o teu blogue continue assim e, que não comeces também tu, Rui, a escrever sobre a crise.
Na minha terra (de onde me trouxeram...) aos "teus" moletes sempre se chamaram "papo-secos".
ResponderEliminarPorque eram jeitosinhos, talvez; daí que o termo "papo-seco" passou a ser dito para referenciar um "gajo" aprumadinho e bem falante...
(Mas isto já será para outro tipo de comentário a um mote que talvez queiras desenvolver).
Quanto às regueifas..., (a imaginação prega-nos cada partida, eheheh)
1 abraço!
Não me canso de repetir: O que eu aprendo no Coisas da Fonte! : )
ResponderEliminarNão conheço outro nome para o papo-seco ou carcaça.
:)))
ResponderEliminarMolete, na minha aldeia, é exatamente o mesmo que em Ermesinde. Já a uns escassos 25 kms chamam-lhe bijou e até carcaça.
Não sabia que molete vinha daqui e muito menos que se devia a esta estória. Fantástico! O que nós aprendemos!:))
bji
Um molete quentinho, estaladiço e barrado com manteiga, hummm... que maravilha.
ResponderEliminarPor acaso sabia bem porque toda a família do meu pai era de Barcelos!
ResponderEliminarCaro confrade Rui da Bica!
ResponderEliminarEstou na mesma sintonia da confrade Catarina!!! Aqui entre nós chamamos de pãozinho ou pão francês!!!
Caloroso abraço! Saudações farináceas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
PS - Na minha já distante adolescência as moçoilas de minissaia quando ficavam derretidas por um rapaz garboso diziam depois de muitos suspiros: - Ele é um pão!!!
Fiquei curioso por mencionar Diadema-SP. Eu já vivi em Diadema, naquele então um distrito de São Bernardo do Campo. Em 1958 o distrito de Diadema desmembrou-se de São Bernardo. Em 1968 deixei Diadema e vim viver para o Porto, onde vivo desde então. Naquele tempo havia duas padarias no centro de Diadema, ambas tinham como proprietários portugueses. Eu penso que elas já não existem. As duas fabricavam o tal pãozinho francês. Como está isso agora. Cordiais cumprimentos desde o Porto.
EliminarNa minha terra os da primeira foto chamam-se pãezinhos ou caseiros, o segundo chama-se espanhol...para ser carcaça tem que ter "maminhas".
ResponderEliminarCarcaça, molete, pãozinho, papo-seco, regueifa, espanhol ou italiano, não interessa...como qualquer um, acabadinho de cozer, barrado com manteiga e acompanhado de leite com café ou chocolate...e agora fiquei com fome :)
Gostei de saber a história do molete :)
Beijinho :)
Também existem as vianinhas, que em pequena comia quando estava de férias na zona de Viana do Castelo, mas que agora também existem por quase todo o lado. Parece-me que só o formato é diferente da comum carcaça ou papo-seco! :)
ResponderEliminarDo molete nunca tinha ouvido falar, mas origem do seu nome é curiosa! :D
Sou fã da regueifa, Amigo Rui.
ResponderEliminarJá ia uma.
Inteirinha!!
E das pinhas, das arrufadas, das vianas?
Agora estou com fome!!
Aquele abraço
Não conhecia os moletes e muito menos a sua história!
ResponderEliminarGostei de saber!
Por aqui são papo secos...
Também há as vianinhas mas essas são redondas e agora raramente as encontro!
Regueifas chegam aqui diariamente mas são demasiado grandes para comprar!
Abraço
EMATEJOCA
ResponderEliminarEu creio que só gentes do Porto e arredores conhecem o molete, precisamente pela proximidade a Ermesinde ! :)
Tentarei, Té ! rrrsssss … por vezes irritam-me certos apelos a “revoluções”… Não sei bem o que seja isso num regime democrático !... Pessoas que tanto queriam eleições livres e agora pretendem ditadura !? :)) … mas vamos esquecer ! rrssss
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Kok
ResponderEliminarConheço o termo, principalmente na região de Lisboa e ouvido em vários filmes portugueses antigos e até em canções ! :))
Regueifinhas na cinta das senhoras também são termo corrente ! rrssss
Abraço !
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Catarina
ResponderEliminarO que todos nós aprendemos uns com os outros ao visitar os respectivos blogs !?... :))
Não sei qual a tua região de origem, mas olha que por ex. em Lisboa, creio que se usa muito o bijou. (?)
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Nina
ResponderEliminarNão fazia ideia que este nome fosse conhecido em Trás-os-Montes !...
Já reparaste que, bijou e pãozinho francês, possam ter uma “ligação” à origem do nome molete (atendendo à permanência temporária dos franceses durante as Invasões) ?...
Curioso é que cheguei a estudar nesse colégio, perto de minha casa e que tinha sido quartel general dos franceses por algum tempo !
Bjs
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paulofski
ResponderEliminarHá lá coisa melhor ! rrssss … ao pequeno almoço ou a meio da tarde ! ;)))
… mas quentinho e estaladiço, por acabado de fazer e não por ser aquecido !
Chego a andar cerca de 1500 metros para o ir buscar (a pé). Actualmente aprecio mais o de “mistura” (em vez do de trigo, ou da avó, ou de água, ou integral) !
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carol
ResponderEliminarBarcelos ainda me surpreende um pouco por já não ser assim tão perto de Ermesinde ! :)) … mas é sinal que o perímetro inicial de distribuição era mais longo do que eu julgava ! :))
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Prof Ms João Paulo de Oliveira
ResponderEliminarÉ subejamente conhecida a influência da padaria portuguesa principalmente no Rio de Janeiro. De Ermesinde foram muitos milhares de emigrantes para o Brasil nas décadas de 40 e 50, muitos deles padeiros que se estabeleceram com essa indústria por lá ! Eram “famosas” no Rio as padarias dos portugueses … assim como famoso o anedotário (carioca / português padeiro) !
O carioca sempre “gozou” com a “inocência” do padeiro português !
Uma rapidinha : Havia um português que na padaria vendia de tudo e fazia questão de nunca faltar fosse o que fosse para servir o cliente e normalmente fazia juz a essa fama. Certo dia um carioca apostou com os amigos que ia embaraçar o português. Entrou e pediu uma sandes de elefante ! :)… O português não se deu por vencido. Respondeu-lhe de imediato: Ó pá que chatice ! Acabei de vender agora mesmo o último pão ! :)))
As moçoilas ainda hoje o dizem : “um pão” ou “um gato” ! rrssss
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maria
ResponderEliminarEu sempre gostei mais de lhes dar o nome mais genérico de pães quando os vou comprar . Caseiros, desconhecia ! :)
Há ainda o “pão de regueifa” que são 3 “bolinhas de massa de regueifa unidos uns aos outros e a “Espanhola” que é uma regueifa sobre o comprido (não redonda) !
Realmente estas coisas despertam o apetite ! Tenho a impressão que hoje vamos todos comer um molete acabadinho de cozer e bem barradinho a manteigo. Que seja “à nossa saúde” !!! rrssss
Beijinho
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Teté
ResponderEliminarNão conhecia com o nome de vianinha, mas já estive a ver no Google ! :)
Continuo no entanto com uma dúvida: se se confirma que há 200 anos já existiriam ou não os pães (seja qual for o nome) já com esta dimensão (nesse caso com origem no molete) ou se eram somente grandes, para a família !?
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Pedro Coimbra
ResponderEliminarIsso não seria demais, caro Pedro ?! :
)))
As “pinhas” desconhecia e a “arrufada” creio ser um pão doce e já com características diferentes, embora com a mesma dimensão.
De qualquer forma, tenham o nome que tiverem arranjei um problema : Estamos todos com desejos de dar umas boas trincadelas naquelas “coisas” ! rrssss
Abraço !
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Rosa dos Ventos
ResponderEliminarSei desta estória (da cultura de Ermesinde) apenas há uns 4 anos e é verdadeira !
Adorei saber, também pelo acréscimo de “me dizer respeito” ! ))
É curioso não saber eu das vianinhas (de Viana do Castelo) e por aqui já se ter falado muito delas !
Da regueifa deixei de ser fã por se tratar de farinha muito branca e extra fina. De momento estou mais adepto da “mistura” e de farinha mais grossa e escura (é mais saudável) !
Bjs
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Que engraçado. Não fazia a mínima ideia donde vinha o nome de molete. O que se aprende por aqui! O que eu gosto mesmo, quando está quentinho é daquele que tem "maminhas": As bicas.
ResponderEliminarLá na minha terra também há quem lhe chame bolacho, mas fui ver no google e bolacho corresponde a belouras.Já agora, sabes o que são belouras?
Sonhadora
ResponderEliminarEsse de "maminhas" não será o de Padronelo (Amarante)que tem 4 biquinhas ?
Segundo a maria, há também "maminhas" nas carcaças.
Dizes bem ! ... O que se aprende aqui com esta gente do Minho ! :))
Não fazia a mínima ideia do que eram belouras ou bolachos, mas já fiquei a saber ! Curioso nunca ter comido nem ouvido falar, mas segundo o google é mesmo uma especialidade minhota, com base de sarrabulho e farinhas e para acompanhar os Rojões ! :))
Obrigado pela dica ! :)))
Boa noite,
ResponderEliminarQuero informar que o NOME DO PÃO "MOLETE" não vem da história da invasão francesa. O nome de MOLETE vem da linguagem GALAICO-PORTUENSE. Na GALIZA( Bolo de pan trigo máis ben grande, esponxoso, brando e con moito miolo) e também em CASTELA também se chama MOLETE que por sua vez deriva do Francês MOLETTE.
O SEU A SEU DONO
Cumprimentos
Avelino Vieira
Avelino Vieira
ResponderEliminarBem-vindo ! :)
Obrigado pelo complemento da informação.
É sempre bom acrescentar novas fontes ! :))
Abraço !
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Olá, Rui!
ResponderEliminarComeço por agradecer as visitas ao meu blogue, embora sem palavras, mas gosto de te sentir por lá.
Desconhecia, totalmente, este nome de pão. Eu k já fui algumas vezes, poucas, ao Porto e a Braga, nunca me falaram de tal coisa. Fico alojada em hotéis, mas podia acontecer k se falasse do assunto, mesmo k, por acaso.
Tudo tem uma razão de ser, e é verdade. Estudei as Invasões Francesas, mas tb não sabia a história do Mollet, k depois deu nome ao pão.
Este blogue é uma enciclopédia.
No Alentejo, onde nasci, um pão pequeno chama-se "brendeirinho".
Dias felizes!
Beijinhos
Olá Céu ! :)
EliminarGrato estou eu pela tua visita e por mais essa informação sobre op nome deste tipo de pão no Alentejo - "brendeirinho" ! :)) ... Não fazia ideia !
Hoje em dia este nome, "molete" tem caído bastante em desuso, se bem que ainda seja usado por muitíssimos dos residentes próximos do Porto, nomeadamente os mais velhos.
A "força" do "bijou" ou do "papo-seco" ou até, mais simplesmente o nome generalizado de "pão" ou "pães" tem feito esquecer o primitivo nome ! :)
Quanto às visitas ao teu blog, sabes bem quanto as aprecio (adoro ler os teus textos) e por lá tenho passado, mais para acompanhar, embora sem comentar. Deves ter reparado que estive ausente, em parte por férias e após elas, por muitos afazeres que entretanto foram ficando para trás, mas em breve, creio que tudo se normalizará ! :))
Grato pela tua apreciação (de "enciclopédia" ! rsrs
Beijinhos, amiga Céu ! :))
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