Não ! Não tem nada a ver com a invenção da "roda", pelo menos daquela em que de imediato pensamos.
Esta foi outra grande invenção da "Roda", ou da "Casa da Roda", porque "antigamente" apesar de tantos atrazos, não se permitia que não hovesse condições para "salvar" recém-nascidos enjeitados que, como hoje, seriam abandonados em caixotes de lixo, ou deitados ao rio, ou abandonados à morte certa em qualquer lugar.
Qualquer mãe que visse que não tinha condições para criar o seu filho, ou que não se soubesse que tinha sido mãe, recorria incógnita, à "Casa da Roda", onde havia uma janela (ver foto) com um tambor com uma abertura, que rodava para fora ou para dentro, numa base circular.
A janela mantinha-se assim sempre fechada, com a abertura do tambor para fora ou para dentro, podendo ser rodada quando se fizesse girar a base (Roda).
A mãe, pela calada da noite, com a cabeça e o rosto cobertos e com o filho bem embrulhado, pousava-o na "roda", pelo lado de fora, fazia-a rodar de modo a passar para o interior, e sem qualquer contacto com alguém, tocava uma campaínha e desaparecia de seguida.
Alguém do lado de dentro, ao soar a campaínha vinha de imediato buscar a criança absolutamente anónima.
A mãe, evidentemente nunca poderia vir a reclamar a maternidade e a instituição (Misericórdia) assumia a criação das crianças ou a sua adopção.
Esta "Roda", da foto, existia no Mosteiro de S. Bento da Avé-Maria, que deu lugar à Estação de S. Bento, no Porto, mas havia muitas outras em várias localidades.
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A roda dos enjeitados teoricamente foi extinta,creio, pelo liberalismo. No entanto subsistiu por longos anos.
ResponderEliminarNão creio que apenas fosse usada por pessoas de condição social "modesta". Isto, porque servia para filhos de mãe "incógnita" de condição social acima da média...
Luis
ResponderEliminarNão sei exactamente quando foi extinta de facto, na prática e se a extinção foi simultânea, ou gradual e se natural ou imposta por lei.
É um facto que era "aberta" a qualquer mulher, incognitamente, qualquer que fosse a sua condição social e de facto muito utilizada pelas senhoras da alta sociedade da época.
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Sim, em Lisboa também existia essa roda, suponho que na Santa Casa da Misericórdia, que também suponho ainda ser no mesmo local...
ResponderEliminarNem sempre as crianças eram deixadas assim tão anónimas, algumas mães deixavam com elas alguns objectos que lhes permitisse mais tarde provar a sua maternidade, tais como fitas, medalhas ou assim. Tenho prái um livro sobre o assunto, tenho de o procurar, depois digo-te a data exacta em que acabaram com a roda )estou convencida que vem no livro).
Hoje em dia quase ninguém sabe o que é, engraçado é que ontem perguntámos a alguns familiares mais jovens o que era uma combinação, um penteador, um saiote e mais umas coisas que nenhum deles tinha ouvido falar. Outros tempos... :)
Olá Teté
ResponderEliminarNormalmente, estavam ligadas à Santa Casa da Misericórdia.
Mesmo na Internet, não abundam muitos dados sobre o assunto e é um facto que não tenho muita informação concreta.
O desconhecimento dos mais novos, sobre muitos assuntos (e este deverá ser um deles) é na realidade a minha motivação para muitas das coisas que gosto de postar.
Não me admiro nada que desconheçam esses termos, para nós, correntes.
Na verdade, ... outros tempos :))
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Engraçado, ouvi falar nos inícios da década de 2000 pela primeira vez duma coisa do género aqui na Alemanha. A Roda, aqui denominada como a "Babyklappe", foi apresentada como uma grande inovação. Palavras antigas! Será que ainda se usam palavras como Bechiché, Rajá e capilé? Adoro estas coisas antigas.
ResponderEliminarOlá Marota
ResponderEliminarÉ curioso isso ser novidade aí. Nunca pensei que ainda existisse o conceito e a prática e muito menos na Alemanha ! Será que é coisa de agora ? ...
Bechiché ?... Será Pechiché ?..., um móvel de quarto antigo, com cobertura de mármore e forma estranha ?...
Rajá, é um governante ou principe indiano, ou marca de um gelado.
Capilé ?..., será um refresco com vinho, água e muito açúcar ?... ou café, limão água e muito açucar.
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A "roda dos enjeitados" foi criada em Marselha, na França, em 1188. Mas foi apenas na década seguinte que seu uso se popularizou. Na ocasião, chocado com o número de bebês mortos encontrados no Rio Tibre, o papa Inocêncio III mandou que o sistema fosse adotado nos territórios da Igreja. No fim do século XIX, o Hospital Santo Spirito, próximo ao Vaticano, um dos primeiros a dispor da "roda dos enjeitados", chegou a receber cerca de 3.000 bebês abandonados por ano. Sobrenomes comuns de famílias italianas teriam origem na "roda dos enjeitados". Entre eles, Esposito, que vem de "exposto" e Innocenti (alusão à inocência infantil). Um dos mais famosos usuários da "roda" foi o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que abandonou os cinco filhos que teve com a serviçal Thérèse le Vasseur. No Brasil, assim como em Portugal, ela era mais conhecida como "roda dos expostos" e funcionou até meados do século passado, sobretudo nas Santas Casas de Misericórdia do Rio de Janeiro e de São Paulo.
ResponderEliminarBjs querido.
Exactamente,Fátima, interessante achega, a este tema de grande interesse aqui lançado pelo Rui. Aqui em Portugal existem trabalhos interessantes sobre este tema como a obra "Os filhos das ervas" entre outros publicados pelo NEPS-Núcleo de Estudos da População.
ResponderEliminarNos conventos de Lisboa é possível encontrar sepultadas crianças...Isso,tive a oportunidade de observar directamente. Bom...Lisboa,no século 18, tinha mais frades e freiras que habitantes comuns...
Quanto à extinção em Portugal,estou 100% seguro de ainda haver rodas de expostos em 1890.
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ResponderEliminarOlá Rui, aqui o meu comentário novamente. Detesto ler erros meus sem ter a possibilidade de os corrigir. O meu português anda cada vez mais rafeiro ;)
ResponderEliminarVoltando ao assunto em questão. Penso que me expressei mal - na altura em que se abriram as primeiras "Babyklappen"' aqui na Alemanha, pareceu-me ser algo de novo porque nunca tinha ouvido falar antes de tal coisa. Como tal, fiquei com uma impressão errada desta instituição. Eu só soube do estabelecimento da primeira Roda nos finais do séc. XII, através da google, após ter lido o teu post.
Ainda hoje há mães, geralmente adolescentes muito jovens, que abandonam filhos recém nascidos. Penso que isto não se passa só aqui na Alemanha e como tal, acho justificável a existência desta instituição ainda nos nossos dias.
É pechiché e não bechiché antigamente eu chamava-lhe Quechiché ;). Rajá era uma marca de gelados quando era criança e como tal chamava-se a tudo que fosse gelado rajá, pelo menos na zona onde vivia. O capilé era o meu refrigerante preferido e se hoje ainda estivesse aqui à venda eu comprava - cumps
Ah,Marota...Rajá fresquinho, há fruta ou chocolate!
ResponderEliminarSim, rajá fresquinho à bera-mar o meu preferido era o de laranja.
ResponderEliminarFatima, minha querida Amiga.
ResponderEliminarExcelente colaboração. A pôres à prova os teus dotes de historiadora ! :))
Um Beijão Grande
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Luis
ResponderEliminarObrigado, pela excelente "ajuda" ao tema.
Incentiva-me a ler mais sobre o assunto !
Abraço !
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Marota
ResponderEliminarQue óptimo testemunho, vindo de ti e relativo a um país como a Alemanha !
Muitíssimo obrigado !
Beijo
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A Todos ( Teté, Marota, Fatima e Luis)
ResponderEliminarMuitíssimo grato ! Excelente a vossa colaboração. Estou certo que todos nós aprendemos um pouco mais sobre o assunto . Saímos mais ricos de conhecimentos.
Quando assim é, é óptimo e incentivador ! Testemunhos de Portugal, Brasil e Alemanha, ... assim vale a pena !.... e pode ser que o tema não morra por aqui e possam aparecer ainda outras dicas !
Obrigado a todos !
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Estive afastado...o tempo de instalar um novo disco sata...a máquina arrastava-se...de volta.
ResponderEliminarLuis
ResponderEliminar:) óptimo !
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